Se existe um recurso essencial — muitas vezes negligenciado — capaz de potencializar resultados na mediação de conflitos, este recurso é a presença.
Não estou falando aqui de estar fisicamente presente em uma sala ou de simplesmente escutar o que o outro tem a dizer. Estou falando de presença real. Presença inteira. Presença que acolhe, sustenta e humaniza.
Neste artigo, vamos explorar o conceito de presença enquanto ferramenta estratégica do mediador, compreender sua importância prática e apresentar caminhos para desenvolvê-la intencionalmente.
O que é presença na prática da mediação?
Presença, no contexto da mediação, é a capacidade do mediador de estar genuinamente atento, disponível e conectado com as pessoas e com o momento presente.
É o contrário do automático. É o oposto da pressa. É a antítese da distração.
O mediador presente:
-
Ouve com o corpo inteiro.
-
Percebe o que não é dito.
-
Cria um espaço seguro.
-
Legitimamente se importa.
-
Dá tempo ao tempo.
Na mediação, mais do que técnicas ou roteiros, a presença é o que abre portas para a confiança, desarma resistências e permite que o diálogo verdadeiro aconteça.
“Ser um mediador presente não é fazer muito. É ser muito.”
Por que a presença é tão poderosa na mediação de conflitos?
A experiência prática e estudos nas áreas da comunicação não-violenta, neurociência e inteligência emocional mostram que a presença tem um efeito direto sobre:
-
Redução de tensões;
-
Aumento da confiança entre as partes;
-
Ampliação da escuta ativa;
-
Maior disposição para o diálogo;
-
Reestruturação das emoções em conflito.
Quando o mediador está presente de verdade, ele se torna âncora emocional no processo. Ele não precisa (e nem deve!) ter todas as respostas — ele precisa sustentar o espaço para que elas apareçam.
Como desenvolver presença na prática da mediação?
A presença é treinável.
Aqui estão 5 estratégias práticas que qualquer mediador pode começar a aplicar imediatamente:
1. Respiração consciente
Antes de iniciar uma sessão de mediação, pare. Respire profundamente. Traga sua atenção para o aqui e agora.
2. Escuta sem intenção de resposta
Ouça sem preparar mentalmente o que você irá dizer em seguida. Apenas ouça.
3. Contato visual genuíno
Olhar nos olhos comunica: “eu estou aqui com você”.
4. Espaços de silêncio
Silêncios também comunicam presença. Não os preencha com pressa.
5. Auto-observação contínua
Perceba quando sua mente se dispersa. Traga-se de volta. Uma e outra vez.
“Na mediação, o que transforma não é apenas o que se diz. É o jeito como se está.”
O papel estratégico da presença para mediadores profissionais
Ser um mediador presente não é ser passivo. É ser estratégico. É ter clareza de que presença não é ausência de técnica — é o alicerce sobre o qual as técnicas se apoiam.
Um mediador que não desenvolve presença corre o risco de:
-
Tornar-se reativo;
-
Ser capturado emocionalmente pelo conflito das partes;
-
Perder sinais importantes no discurso não-verbal;
-
Deixar passar oportunidades de transformação.
Por outro lado, o mediador presente se transforma em um verdadeiro catalisador de mudanças — não porque faz muito, mas porque é muito.
Considerações finais
Num mundo acelerado, automático e distraído, a presença se tornou revolucionária.
Na mediação de conflitos, ser presença é ser instrumento de transformação. É abrir caminho para que pessoas em dor, em disputa ou em sofrimento possam se reconhecer, se escutar e, quem sabe, se reconciliar.
Talvez a principal tarefa do mediador transformacional do futuro seja, antes de tudo, reaprender a arte de estar presente.
Porque, no fim das contas, presença é um dos maiores gestos de cuidado que alguém pode oferecer.